

Estive em Avaí, visitando os índios Terena, no último 19 de abril e na volta fui questionada por uma das educadoras sobre a validade desta atitude, de levar os adolescentes até a aldeia, ou mesmo da postura daquele povo indígena, de se deixar visitar e expor sua cultura como se fossem animais em extinção ou coisa parecida.
Então me pus a questionar essa realidade, retrocedi 500 anos na história, reportei-me ao contato e busquei um paralelo.
Nossos educandos sentiram o medo, o receio à interação que se daria, formulando perguntas como: eles não vão estar nus não é? Eu disse-lhes que provavelmente não. Mas que teríamos que estar abertos para o novo e que se acaso estivessem nus a maldade não estaria em sua nudez, mas em nossas cabeças.
500 anos se passaram, os indígenas mudaram muito, sofreram muito, morreram muitos, mas resistiram, aprenderam a se organizar e se uniram numa luta em razão da sobrevivência e da resistência.
E nós Continuamos os mesmos, julgando pelo pouco que vimos ou que ouvimos. Condenando mentalmente uma postura que de fato desconhecemos ou se não chegamos a ponto de condenar, no mínimo ousamos questionar algo que não diz respeito a nós, à nossa vida.
Eles nos receberam com a mesma gentileza que receberam Cabral e para nós também dançaram, só que desta vez nós avisamos que iríamos e eles aceitaram nos receber.
Quando se dispuseram a receber diversas escolas em suas terras e nos mostrar um pouco de sua cultura, penso que estavam buscando uma forma de comunicação.
Naquele momento nós éramos os receptores, eles os emissores e a dança, o canto, o artesanato eram as suas linguagens, seus signos, os que escolheram para demonstrar sua cultura.
Esse diálogo continua sendo difícil, essa leitura ainda é controversa, o que para eles é utilitário para nós torna-se objeto de arte, o que para eles é sagrado, para nós não tem nenhum significado.
Para haver verdadeira comunicação nós, que nos dispusemos a conhecer, teríamos que nos despir de nossas verdades e tentar compreender a mensagem que nos seria carinhosamente transmitida.
A comunicação é um processo que busca afetar o comportamento do outro, nesse sentido o que será que os Terena gostariam de afetar em nosso comportamento?
Outro fator importante na comunicação é o contexto em que ela se dá. Em que contexto vivemos nós? Qual é a cultura implantada pelo neoliberalismo? A sociedade do espetáculo, como denominam os teóricos. Um mundo altamente competitivo e individualizado, onde a privacidade é constantemente invadida.
Eu me pergunto de onde vem tanto ódio? Por que? por que tanta curiosidade pela privacidade alheia ? Por que assistir Isabela noite e dia pode? e esquecer das nossas vidas pode?
Ah! Perdoem-me mas eu prefiro o espetáculo da aldeia do povo Terena. Eu prefiro olhar, escutar, sentir com todos os meus sentidos a mensagem transmitida no dia 19 de abril.
Dou-me por vencida, mesmo porque a comunicação não deixa de ser uma disputa de poder.
Torno a perguntar-me: será que é certo o povo indígena se expor desta forma ao olhar do branco, do colonizador?
Nessa longa caminhada houve um crescimento, não do indígena em si, mas da visão do branco que os enxergou ora como animais, sem almas, ora como vagabundos, sujos, incapazes.
A escola muitas vezes faz de conta que não vê e chega a fingir que os indígenas não existem mais. Diversos livros didáticos ainda trazem dizeres como “os índios caçavam”, “os índios comiam”, “os índios moravam” , como se não comessem, não caçassem, não morassem, não vivessem mais.
Por outro lado não podemos cobrar comportamentos politicamente corretos de nossos irmãos, não nos cabe atirar pedra no telhado do vizinho, haja visto a fragilidade de nosso teto.
Nós nunca estivemos tão desorganizados politicamente, a exemplo das relações trabalhistas, conquistadas a custa de tanta luta, sendo colocadas por terra. O desemprego estrutural, o aumento da exploração e da miséria.
A educação em vias da privatização e nós educadores continuamos desunidos, furando greves.
Nossos irmãos indígenas vêm tomando a educação em suas mãos, lutando por uma educação bilíngüe.
Há ainda mais um item que eu gostaria de discorrer aqui, é quanto a ser ou não índio de verdade. Alguém já ouviu falar em português de verdade, americano de verdade, italiano de verdade?
Comer uma pizza nos torna menos brasileiros?
Um índio fora da aldeia já não é mais índio?
Quem foi que disse que o indígena é obrigado a andar pelado?
Porque é que se cobra do indígena uma cultura estática? Porque nós é que decidimos o que é ser
“índio bom” ? E isto para nós ora é ser aculturado, ora é ter resistido ao processo de aculturação.
Ora! E o povo indígena não tem querer, não tem voz, não tem poder sobre sua própria história?
Se é correto ou não se “despir” frente ao branco, acolhe-lo gentilmente, se é certo cantar para ele, dançar, se pintar. Quem tem que decidir isto é o próprio povo indígena.
Espero que decisões assim sejam tomadas num processo democrático, como presenciei na aldeia do povo Karipuna no Amapá. Mas se não for possível, que seja como bem queiram, porque são eles afinal os verdadeiros protagonistas de sua história.
É pena que muitas vezes nós não consigamos desvendar os signos e apreender o verdadeiro significado, compreendendo a mensagem.
Para mim o importante é proporcionar aos educandos esta rica experiência de conviver com a diversidade, de questionar o etnocentrismo, de desconstruir e reconstruir através da reflexão.
Nós, desta vez não fomos em terra estranha buscar ouro, portanto, não encontramos. Eu, porém ainda acho que poderíamos ter encontrado ouro se estivéssemos abertos à comunicação. Vejamos por exemplo a dança apresentada, em nada se parece com a “ciranda neoliberal”.
O canto em uníssono, a dança sincronizada em nada se assemelha a competição, ao individualismo. Muitos valores estavam implícitos naquele dançar e ao nosso senso passaram despercebidos.
Egocentrados, etnocentrados, seguimos nossa viagem.
Então me pus a questionar essa realidade, retrocedi 500 anos na história, reportei-me ao contato e busquei um paralelo.
Nossos educandos sentiram o medo, o receio à interação que se daria, formulando perguntas como: eles não vão estar nus não é? Eu disse-lhes que provavelmente não. Mas que teríamos que estar abertos para o novo e que se acaso estivessem nus a maldade não estaria em sua nudez, mas em nossas cabeças.
500 anos se passaram, os indígenas mudaram muito, sofreram muito, morreram muitos, mas resistiram, aprenderam a se organizar e se uniram numa luta em razão da sobrevivência e da resistência.
E nós Continuamos os mesmos, julgando pelo pouco que vimos ou que ouvimos. Condenando mentalmente uma postura que de fato desconhecemos ou se não chegamos a ponto de condenar, no mínimo ousamos questionar algo que não diz respeito a nós, à nossa vida.
Eles nos receberam com a mesma gentileza que receberam Cabral e para nós também dançaram, só que desta vez nós avisamos que iríamos e eles aceitaram nos receber.
Quando se dispuseram a receber diversas escolas em suas terras e nos mostrar um pouco de sua cultura, penso que estavam buscando uma forma de comunicação.
Naquele momento nós éramos os receptores, eles os emissores e a dança, o canto, o artesanato eram as suas linguagens, seus signos, os que escolheram para demonstrar sua cultura.
Esse diálogo continua sendo difícil, essa leitura ainda é controversa, o que para eles é utilitário para nós torna-se objeto de arte, o que para eles é sagrado, para nós não tem nenhum significado.
Para haver verdadeira comunicação nós, que nos dispusemos a conhecer, teríamos que nos despir de nossas verdades e tentar compreender a mensagem que nos seria carinhosamente transmitida.
A comunicação é um processo que busca afetar o comportamento do outro, nesse sentido o que será que os Terena gostariam de afetar em nosso comportamento?
Outro fator importante na comunicação é o contexto em que ela se dá. Em que contexto vivemos nós? Qual é a cultura implantada pelo neoliberalismo? A sociedade do espetáculo, como denominam os teóricos. Um mundo altamente competitivo e individualizado, onde a privacidade é constantemente invadida.
Eu me pergunto de onde vem tanto ódio? Por que? por que tanta curiosidade pela privacidade alheia ? Por que assistir Isabela noite e dia pode? e esquecer das nossas vidas pode?
Ah! Perdoem-me mas eu prefiro o espetáculo da aldeia do povo Terena. Eu prefiro olhar, escutar, sentir com todos os meus sentidos a mensagem transmitida no dia 19 de abril.
Dou-me por vencida, mesmo porque a comunicação não deixa de ser uma disputa de poder.
Torno a perguntar-me: será que é certo o povo indígena se expor desta forma ao olhar do branco, do colonizador?
Nessa longa caminhada houve um crescimento, não do indígena em si, mas da visão do branco que os enxergou ora como animais, sem almas, ora como vagabundos, sujos, incapazes.
A escola muitas vezes faz de conta que não vê e chega a fingir que os indígenas não existem mais. Diversos livros didáticos ainda trazem dizeres como “os índios caçavam”, “os índios comiam”, “os índios moravam” , como se não comessem, não caçassem, não morassem, não vivessem mais.
Por outro lado não podemos cobrar comportamentos politicamente corretos de nossos irmãos, não nos cabe atirar pedra no telhado do vizinho, haja visto a fragilidade de nosso teto.
Nós nunca estivemos tão desorganizados politicamente, a exemplo das relações trabalhistas, conquistadas a custa de tanta luta, sendo colocadas por terra. O desemprego estrutural, o aumento da exploração e da miséria.
A educação em vias da privatização e nós educadores continuamos desunidos, furando greves.
Nossos irmãos indígenas vêm tomando a educação em suas mãos, lutando por uma educação bilíngüe.
Há ainda mais um item que eu gostaria de discorrer aqui, é quanto a ser ou não índio de verdade. Alguém já ouviu falar em português de verdade, americano de verdade, italiano de verdade?
Comer uma pizza nos torna menos brasileiros?
Um índio fora da aldeia já não é mais índio?
Quem foi que disse que o indígena é obrigado a andar pelado?
Porque é que se cobra do indígena uma cultura estática? Porque nós é que decidimos o que é ser
“índio bom” ? E isto para nós ora é ser aculturado, ora é ter resistido ao processo de aculturação.
Ora! E o povo indígena não tem querer, não tem voz, não tem poder sobre sua própria história?
Se é correto ou não se “despir” frente ao branco, acolhe-lo gentilmente, se é certo cantar para ele, dançar, se pintar. Quem tem que decidir isto é o próprio povo indígena.
Espero que decisões assim sejam tomadas num processo democrático, como presenciei na aldeia do povo Karipuna no Amapá. Mas se não for possível, que seja como bem queiram, porque são eles afinal os verdadeiros protagonistas de sua história.
É pena que muitas vezes nós não consigamos desvendar os signos e apreender o verdadeiro significado, compreendendo a mensagem.
Para mim o importante é proporcionar aos educandos esta rica experiência de conviver com a diversidade, de questionar o etnocentrismo, de desconstruir e reconstruir através da reflexão.
Nós, desta vez não fomos em terra estranha buscar ouro, portanto, não encontramos. Eu, porém ainda acho que poderíamos ter encontrado ouro se estivéssemos abertos à comunicação. Vejamos por exemplo a dança apresentada, em nada se parece com a “ciranda neoliberal”.
O canto em uníssono, a dança sincronizada em nada se assemelha a competição, ao individualismo. Muitos valores estavam implícitos naquele dançar e ao nosso senso passaram despercebidos.
Egocentrados, etnocentrados, seguimos nossa viagem.
2 comentários:
Não gostaria de comentar teu texto, pois, de fato, eu gostaria mesmo era de assinar embaixo! De ter sido eu quem o escreveu e, acima de tudo, quem o vivenciou.
Não me agradam os adjetivos, mas não tive como me furtar - em todo decorrer da leitura - de: FANTÁSTICO! FORMIDÁVEL!...
Com tua permissão, gostaria de dispô-lo em meus blogs; e que tu poste-os em meus orkuts...
Todos os meus espaços deixo-os disponíveis para ti, para que o postes. Devemos divulgá-lo exaustivamente. Esta verdade dura não pode calar.
As fotos... Ah! as fotos!!!
Viajei, e quanto! dos Terena aos Wajuru...
Temos que "desconstruirmos e reconstruirmos através da reflexão", como dizes, mas também temos que levar aos outros parâmetros para reflexão!
Eia!!!
Conta comigo, SEMPRE!
SILÊNCIO! O LIBELO DE CULPA ESTÁ EDITADO
Agora, eu quero que se deite sobre este país
um profundo silêncio
(um sepulcral silêncio)
e que nem um psiu seja sussurrado
e que ninguém se atreva a murmurar um ai
ou balbuciar um gemido:
SILÊNCIO!
O juiz ancestral de minha consciência
vai agora editar o libelo de culpa das minhas culpas
(de minhas máximas culpas)
dos crimes que cometi e dos que não cometi
ou por omissão incorro na co-autoria...
Sim, sou réu confesso:
ouvi o ronco aterrorizador do moto-serra
(faminto insaciável de madeira e lucro)
com sua barriga de aço e sem fim
e em seguida, o estrondo de mais uma árvore
centenária e amazônica
que tombava bem ante mim
e tudo na mata silenciou...
inclusive eu – criminosamente omisso e impotente!
Depois, na Linha 21,
o Pedro verá passar mais um “caminhão de tora”
e dirá tristemente, desconsoladamente:
– ... É a Amazônia que tá indo embora!...
Beijos, com admiração!
Antenor.
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